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TERCEIRÃO – MODELOS DE TEXTOS NOTA 1.000

OLÁ!

Aqui estão três provas de redação do Enem de 2019. Veja que os candidatos fizeram um trabalho exatamente como apresentamos em sala de aula. O projeto disso é o quê? Treino, muito treino, essa foi a razão de termos iniciado nosso ano letivo, lidando com o texto DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO. Segue um link para que você possa ler mais redações  NOTA 1.000 e, com isso, “inspirar-se” para fazer a sua. Observe como os candidatos usam as “amarrações”, as palavras de transição para causar a fluência das orações. Sublinhamos para que você observe e, depois, empregue em seu trabalho.

https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/enem/enem-2019-estudantes-nota-1000-dao-dicas-para redacao/347658.html#:~:text=O%20Inep%20liberou%20hoje%2C%2017,produzir%20uma%20reda%C3%A7%C3%A3o%20nota%201000.

 

PROPOSTA ENEM 2019

TEXTO I

               No dia da primeira exibição pública de cinema — 28 de dezembro de 1895, em Paris —, um homem de teatro que trabalhava com mágicas, Georges Mélies, foi falar com Lumière, um dos inventores do cinema; queria adquirir um aparelho, e Lumière desencorajou-o, disse-lhe que o “Cinematógrapho” não tinha o menor futuro como espetáculo, era um instrumento científico para reproduzir o movimento e só poderia servir para pesquisas. Mesmo que o público, no início, se divertisse com ele, seria uma novidade de vida breve, logo cansaria. Lumière enganou-se.Como essa estranha máquina de austeros cientistas virou uma máquina de contar estórias para enormes plateias, de geração em geração, durante já quase um século?

 

BERNARDET, Jean-Claude. O que é Cinema. In BERNARDET, Jean-Claude; ROSSI, Clóvis.

O que é Jornalismo, O que é Editora, O que é Cinema. São Paulo: Brasiliense, 1993.

 

TEXTO II

Edgar Morin define o cinema como uma máquina que registra a existência e a restitui como tal, porém levando em consideração o indivíduo, ou seja, o cinema seria um meio de transpor para a tela o universo pessoal, solicitando a participação do espectador.

GUTFREIND, C. F. O filme e a representação do real. E-Compós, v. 6, 11, 2006 (adaptado).

 

 

TEXTO III

O Brasil já teve um parque exibidor vigoroso e descentralizado: quase 3 300 salas em 1975, uma para cada 30 000 habitantes, 80% em cidades do interior. Desde então, o país mudou.

Quase 120 milhões de pessoas a mais passaram a viver nas cidades. A urbanização acelerada, a falta de investimentos em infraestrutura urbana, a baixa capitalização das empresas exibidoras, as mudanças tecnológicas, entre outros fatores, alteraram a geografia do cinema. Em 1997, chegamos a pouco mais de 1 000 salas.

Com a expansão dos shopping centers, a atividade de exibição se reorganizou. O número de cinemas duplicou, até chegar às atuais 2 200 salas. Esse crescimento, porém, além de insuficiente (o Brasil é apenas o 60º país na relação habitantes por sala), ocorreu de forma concentrada. Foram privilegiadas as áreas de renda mais alta das grandes cidades. Populações inteiras foram excluídas do universo do cinema ou continuam mal atendidas: o Norte e o Nordeste, as periferias urbanas, as cidades pequenas e médias do interior.

Disponível em: https://cinemapertodevoce.ancine.gov.br. Acesso em: 13 jun. 2019 (fragmento).

 

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.  Um texto de 20 a 30 linhas.

 REDAÇÕES QUE TIVERAM NOTA 1.000

REDAÇÃO 1

A estudante Ana Clara tem 21 anos, é de Brasília/DF, e tem o sonho de ser Médica. Ela fez o Enem pela 4ª vez até conseguir a nota 1000 na redação. Ana relembra que treinou muito e fazia pelo menos duas redações por semana, além de sempre conversar com um professor para entender o que deveria mudar e acabar com os erros. A estudante conta como foi a preparação e nas vésperas da prova. “No dia anterior à prova eu revisei todas as minhas redações do semestre para lembrar dos erros que não poderia cometer e também lembrar dos repertórios que tinha usado”, contou Ana.

Ana Clara fazia cerca de duas redações semanais

Leia a redação:

                “Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito de todos os cidadãos, percebe-se que, na atual realidade brasileira, não há o cumprimento dessa garantia, principalmente no que diz respeito ao cinema. Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos grandes centros urbanos e à concepção cultural de que a arte direcionada aos mais favorecidos economicamente.

                É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram construídas sobre um viés elitista e segregacionista, de modo que os centros culturais estão, em sua maioria, restritos ao espaço ocupado pelos detentores do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a chegada do cinema, já que apenas 17% da população do país frequenta os centros culturais em questão. Nesse sentido, observa-se que a segregação social – evidenciada como uma característica da sociedade brasileira, por Sérgio Buarque de Holanda, no livro “Raízes do Brasil” – se faz presente até os dias atuais, por privar a população das periferias do acesso à cultura e ao lazer que são proporcionados pelo cinema.

                Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte não abrange a população de baixa renda é um fato limitante para que haja a democratização plena da cultura e, portanto, do cinema. Isso é retratado no livro “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, o qual ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de miserabilidade vive, e, assim, mostra como o acesso a centros culturais é uma perspectiva distante de sua realidade, não necessariamente pela distância física, mas pela ideia de pertencimento a esses espaços.

                Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da democratização do cinema é imprescindível para a construção de uma sociedade mais igualitária. Nessa lógica, é imperativo que o Ministério da Economia destine verbas para a construção de salas de cinema, de baixo custo ou gratuitas, nas periferias brasileiras por meio da inclusão desse objetivo na Lei de Diretrizes Orçamentárias, com o intuito de descentralizar o acesso à arte. Além disso, cabe às instituições de ensino promover passeios aos cinemas locais, desde o início da vida escolar das crianças, mediante autorização e contribuição dos responsáveis, a fim de desconstruir a ideia de elitização da cultura, sobretudo em regiões carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar para a completude da democracia no âmbito cultural.”

 

REDAÇÃO 2

Com 17 anos, o estudante Augusto, de Goiânia/GO, fez o Enem por duas vezes. Ele concluiu o Ensino Médio em 2019 e afirma que começou a aperfeiçoar a escrita desde o 1º ano. Para alcançar a nota máxima na redação, entre algumas técnicas de estudo, Augusto seguiu o conselho do seu professor e separava informações que poderiam ser relacionadas com os possíveis temas. “Em primeiro lugar, me preparei emocionalmente para ficar tranquilo no dia da prova. Depois, a conselho do meu professor de redação, durante o ano separei um caderno para anotar possíveis repertórios socioculturais como citações, teorias e dados de outras áreas do conhecimento como História e Filosofia”, relembrou. Ele foi aprovado em Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Leia a redação:

                “Aristóteles, grande pensador da Antiguidade, defendia a importância do conhecimento para a obtenção da plenitude da essência humana. Para o filósofo, sem a cultura e a sabedoria, nada separa a espécie humana do restante dos animais. Nesse contexto, destaca-se a importância do cinema, desde a sua criação, no século XIX, até a atualidade, para a construção de uma sociedade mais culta. No entanto, há ainda diversos obstáculos que impedem a democratização do acesso a esse recurso no Brasil, centrados na elitização do espaço público e causadores da insuficiência intelectual presente na sociedade. Com isso, faz-se necessária uma intervenção que busque garantir o acesso pleno ao cinema para todos os cidadãos brasileiros.

                De início, tem-se a noção de que a Constituição Federal assegura a todos os cidadãos o acesso igualitário aos meios de propagação do conhecimento, da cultura e do lazer. Porém, visto que os cinemas, materialização pública desses conceitos, concentram-se predominantemente nos espaços reservados à elite socioeconômica, como os “shopping centers”, é inquestionável a existência de uma segregação das camadas mais pobres em relação ao acesso a esse recurso. Essa segregação é identificada na elaboração da tese de “autocidadania”, escrita pelo sociólogo Jessé Souza, que denuncia a situação de vulnerabilidade social vivida pelos mais pobres, cujos direitos são negligenciados tanto pela falta de ação do Estado quanto pela indiferença da sociedade em geral. Fica claro, então, que o acesso ao cinema não é um recurso democraticamente pleno no Brasil.

                Como consequência dessa elitização dos espaços públicos, que promove a exclusão das camadas mais periféricas, é observado um bloqueio intelectual imposto a essa parte da população. Nesse sentido, assuntos pertinentes ao saber coletivo, que, por vezes, não são ensinados nas instituições formais de ensino, mas são destacados pelos filmes exibidos nos cinemas, não alcançam as mentes das minorias sociais, fato que impede a obtenção do conhecimento e, por conseguinte, a plenitude da essência aristotélica. Essa situação relaciona-se com o conceito de “alienação”, descrito pelo alemão Karl Marx, que caracteriza o estado de insuficiência intelectual vivido pelos trabalhadores da classe operária no contexto da Revolução Industrial, refletido na camada pobre brasileira atual.

                Portanto, fica evidente a importância do cinema para a construção de uma sociedade mais culta e a necessidade de democratização desse recurso. Nesse âmbito, cabe ao Ministério da Educação e da Cultura promover um maior acesso ao conhecimento e ao lazer, por meio da instalação de cinemas públicos nas áreas urbanas mais periféricas – que deverão possuir preços acessíveis à população local -, a fim de evitar a situação de alienação e insuficiência intelectual presente nos membros das classes mais baixas. Desse modo, o cidadão brasileiro poderá atingir a condição de plenitude da essência, prevista por Aristóteles, destacando-se, logo, das outras espécies animais, através do conhecimento e da cultura.”

REDAÇÃO 3

O mineiro Lucas Rios de 18 anos conseguiu o resultado em dose dupla: nota mil na redação do Enem em 2018 e 2019. Neste ano o jovem foi aprovado em Ciências da Computação, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2018, Lucas fez o exame como treineiro, conheceu a prova e aproveitou seu gosto pela área de exatas para desenvolver a redação sobre a “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. Já em 2019, o papel da escola foi fundamental para que ele se saísse bem na produção textual sobre um tema que não tinha tanto domínio.

Leia a redação:

                “O cinema se tornou uma tecnologia com grande potencial expressivo e, por essa razão, é considerado uma forma de arte. Simultaneamente, apresenta elevado valor lúdico, prova pelo recente sucesso de obras como “Coringa” e “Vingadores: Ultimato”. Infelizmente, no contexto brasileiro, nem todos têm amplo acesso a tal maravilha. Nesse sentido, percebe-se a existência de problemas sociais e econômicos que dificultam a democratização dessa atividade no país.

                Segundo o economista Ludwig von Mises, um dos grandes nomes da Escola Austríaca de Economia, o homem quando em liberdade, tende a agir buscando a maximização de sua felicidade. Sob essa ótica, nota-se que indivíduos com baixo poder aquisitivo priorizarão serviços de necessidade básica (como alimentação, saúde e moradia) em detrimento de atividades culturais, uma vez que aqueles, por serem essenciais à sobrevivência, lhes farão mais felizes que estes. Assim, a fragilidade econômica torna-se um fator de exclusão de certas parcelas da população nacional do mundo cinematográfico.

                Além disso, de acordo com o Índice de Liberdade Econômica desenvolvido pela Heritage Foundation, o Brasil está entre os piores países para abrir uma empresa. Isso é resultado da alta complexidade tributária e burocrática, que resulta em maiores custos tanto para empreendedores quanto para consumidores. Por não ser imune a tal fenômeno, o setor do cinema sofre com as mesmas consequências, que restringem ainda mais a participação popular nas sessões. Dessa forma, a abertura e simplificação desse mercado são medidas necessárias para democratizá-lo, dado que reduzem os preços.

                Diante do exposto, evidenciam-se os desafios sociais e econômicos para o pleno acesso da população brasileira às obras cinematográficas. Cabe, então, ao Ministério da Cidadania, por ter herdado as funções do extinto Ministério da Cultura, criar, por meio de parcerias com as empresas do setor, entradas gratuitas periódicas para a população de baixa renda, de modo a facilitar a sua participação nas salas de cinema e, consequentemente, popularizar o acesso à cultura. Paralelamente, o Ministério da Economia deve estimular, através de medidas provisórias, a redução de impostos e regulações no mercado citado. Desse modo, concretizar-se-ão os seus valores lúdico e artístico, que serão apreciados pelo povo brasileiro como um todo.”