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REDAÇÃO – TERCEIRÃO – CARTA ABERTA

A CARTA ABERTA

A carta aberta é um gênero textual com função de direcionar mensagem, questionamento ou pedido de determinado indivíduo ou grupo para alguma pessoa, autoridade ou organização de reconhecimento público. Por meio do texto, o autor procura defender um ponto de vista e convencer não apenas o destinatário, como também o público que tiver acesso à carta.

O texto da CARTA ABERTA se parece em muito com uma carta pessoal, todavia tem como objetivo defender uma opinião, uma proposta, uma sugestão. Tem direcionamento certo, mas está ao dispor de toda comunidade – todos podem lê-la.

A CARTA ABERTA é divulgada pelos meios de comunicação com o objetivo de compartilhar  com ouvintes ou leitores aquilo que se dirige a uma determinada pessoa ou órgão.

O  gênero CARTA ABERTA também é marcado pelo seu caráter argumentativo, pois, diante da discussão de temáticas sociais e apresentação de solicitações, é necessário fundamentar seu pedido e fortalecer seu ponto de vista e sugestões apresentadas, baseando-se em argumentos sólidos.

Como  se faz uma CARTA ABERTA?

 

Para redigir uma boa CARTA ABERTA é preciso levar em conta seis itens muito importantes – o que  vamos chamar de  estrutura.

  • Título: Toda carta aberta tem um título – nele se coloca para quem é dirigida.
  • Introdução: Faz-se uma abertura expondo ao(s) leitor(es) o porquê dessa carta.
  • Desenvolvimento: Por meio de argumentos, trabalha-se esse “porquê” – uma CARTA ABERTA tem de estar apoiada em argumentos sólidos que o remetente irá defender.
  • Conclusão: Depois de argumentar para convencer o destinatário, fecha-se o trabalho na condução e esperança de que ele aceitará o que se afirmou no desenvolvimento.
  • Despedida: Como numa carta pessoal, faz-se a despedida.
  • Assinatura: Toda CARTA ABERTA é assinada pelo remetente que assume a responsabilidade por aquilo que nela se declarou.

Título

O título é o nome que você dará a sua carta aberta. Comumente, o título é objetivo e pontual (por exemplo, “Carta Aberta ao Ministério da Educação”), indicando tanto o gênero quanto o destinatário. Deve vir centralizado no topo do texto.

Introdução

A introdução é o início da sua carta, é o momento das apresentações sobre as ideias e temáticas que serão discutidas, do remetente da carta e, diversas vezes, até mesmo do destinatário. A função principal da introdução é situar o leitor a respeito do que será abordado. Nesse sentido, é importante lembrar que, por não ser direcionada somente ao destinatário mas também ao grande público, muitas vezes o autor pode apresentar informações direcionadas aos diversos leitores, no intuito de contextualizá-los a respeito de detalhes que possam não ser conhecidos por todos.

A carta aberta é utilizada principalmente para criticar, solicitar ou sugerir algo de caráter social, desse modo, é comum que a introdução também apresente as primeiras informações a respeito do problema detectado, de modo que, ao final da leitura dessa parte, o leitor consiga identificar as informações principais do texto.

Desenvolvimento

O desenvolvimento é a parte do texto em que as questões apresentadas na introdução são aprofundadas. É o espaço no qual se pode explicar melhor os conceitos apresentados ou a situação do problema abordado, aprofundar em como isso interfere na vida das pessoas ou por que isso é um problema.

Além disso, nessa parte, é essencial que se apresentem e se desenvolvam os argumentos que embasam o posicionamento crítico defendido, podendo, para isso, lançar mão de outros textos, como dados estatísticos, gráficos, reportagens, pesquisas, entre outros, no intuito de fortalecer seu ponto de vista.

Conclusão

Na conclusão, encerram-se os debates a respeito da questão apresentada e se encaminha a um desfecho, no qual comumente se apresenta uma sugestão para o problema identificado. Além disso, é possível também fazer uma conclusão crítica, sugerindo, ao destinatário e a todos os leitores, uma reflexão a respeito do assunto.

Despedida

A despedida é uma pequena frase na qual o remetente agradece pela atenção e se despede do destinatário com certo grau de formalidade. Comumente, utiliza-se a forma “Atenciosamente,”. Essa pequena frase fica separada do grande texto e situada na lateral esquerda da folha.

Assinatura

A assinatura é a identificação oficial do remetente e pode se referir a uma pessoa ou a um grupo ou instituição. Assim, escreve-se o nome que identifica quem endereça a carta, abaixo da linha de despedida e na lateral direita da folha.

ATENÇÃO!

Primeiro, inicie a carta assinando data e local no canto esquerdo do início da folha, pois toda carta necessita da marcação espaço/temporal. Em seguida, dê um espaço para baixo e, no centro da folha, insira o seu título. Na linha seguinte, inicie o seu grande texto pela introdução.

Encerrando-se a fase anterior, dê um espaço para a linha abaixo e, na lateral esquerda, insira uma pequena marca de despedida, indicando a finalização da carta. Na próxima linha, na lateral direita, insira a sua assinatura ou a do grupo do qual faz parte.

EXEMPLO

Artistas, empresários, profissionais da cultura escrevem uma CARTA ABERTA ao prefeito de Curitiba em razão de atitudes tomadas durante a pandemia por parte da prefeitura daquela cidade.

CARTA ABERTA AO PREFEITO DE CURITIBA

Curitiba, 27 de maio de 2020.

Ilmo.

RAFAEL GRECA DE MACEDO

Prefeito da Cidade de Curitiba

Prezado Senhor,

Diante da impossibilidade de continuarmos exercendo nossas atividades profissionais, solicitamos que sejam tomadas medidas compatíveis com a situação emergencial que toda a cadeia de profissionais ligados à arte e à cultura que atuam na cidade de Curitiba se encontram. Sabemos que o número de eventos e projetos culturais que foram cancelados em virtude da COVID-19 é substancial e isso representa um prejuízo de grandes proporções, que está impactando diretamente nossas vidas e nossas famílias.

Como um parâmetro inicial, apenas no cadastro do Sistemas de Informação da Cultura (SISPROFICE) existem 6.370 agentes culturais (Pessoa física) e 1.758 empresas da área da cultura (Pessoas Jurídicas) cadastrados e atuantes na cidade de Curitiba. Sabemos que esse número é inferior à realidade, e mesmo assim, no único edital lançado pela Fundação Cultural de Curitiba, até agora, foram contemplados apenas 300 profissionais da área da cultura. O nosso setor emprega mais de 5% da mão de obra do país e responde por mais de 2% do PIB nacional. A cultura representa um segmento expressivo e estratégico para cidade de Curitiba e portanto, o repasse da Prefeitura ao Fundo Municipal de Cultura pode e deve ser considerado um investimento na própria economia do município.

É neste sentido propositivo que consideramos que não podemos mais esperar: é necessária a construção imediata de um plano de ação em conjunto com a prefeitura e a FCC que impliquem em mais ações e que possam ser desenvolvidas durante e após este período de pandemia. Vemos que ainda mais nesta situação excepcional a FCC pode e deve assumir um papel de protagonismo. A instituição existe há quase 50 anos e a Lei de Incentivo à Cultura do Município há quase 30, o que só aumenta a sua responsabilidade social, política e histórica. Não nos esqueçamos de que essa Lei Municipal surgiu em um momento político turbulento de nossa história, com um Governo Federal que tinha pouco ou nenhum apreço pela cultura e mesmo assim, a administração municipal da época foi na contramão e implementou o programa que temos hoje. Isso nos faz ter a certeza de que a administração atual, em todas as suas esferas, considera e valoriza a cultura de Curitiba.

É inegável, portanto, que tanto a prefeitura de Curitiba quanto à FCC tem muita tradição e inestimáveis serviços prestados à cultura. Confirmando sua liderança na área cultural do estado, a prefeitura e a FCC devem agir e tomar medidas mais enérgicas, amplas e concretas para recuperação econômica do setor, servindo de exemplo para as administrações de outros municípios e até mesmo para a esfera estadual. É neste sentido propositivo que consideramos que não podemos mais esperar para construir um plano de ação em conjunto com a prefeitura e a FCC para superar esse grave momento, auxiliar o setor para que seus trabalhadores não passem mais necessidades e possam voltar, quando a situação estiver normalizada, a levar o nome da nossa cultura com ainda mais vigor para o resto do país e para o mundo.

Dessa forma, pedimos uma reunião entre representantes de entidades e coletivos culturais da cidade de Curitiba com a presidente da Fundação Cultural e com o Sr. Prefeito Rafael Greca, com o intuito de auxiliarmos na construção de medidas efetivas e abrangentes para a cultura a partir do descontingenciamento do recurso previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) para o Fundo Municipal de Cultura para o exercício de 2020, que é de R$14.272.000 Sendo assim, solicitamos:

Um programa de Renda Básica Emergencial para os trabalhadores da cultura enquanto durar o estado de calamidade pública nacional, que inclua técnicos, produtores, artistas de todas as áreas, sem análise de mérito e sem distinção;

Um programa de Editais e Prêmios para todas as áreas culturais para recuperação econômica pós-pandemia (construído com apoio dos Conselhos de Cultura do Município, Entidades e Coletivos Culturais).

Pedem deferimento,

AVEC – ASSOCIAÇÃO DE VÍDEO E CINEMA DO PARANÁ

ASPART – ASSOCIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA ARTÍSTICA DO PARANÁ

ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO PÉ NO PALCO – AÇÃO EM VALORES HUMANOS

ASSOCIAÇÃO PARANAENSE DA PARADA DA DIVERSIDADE – APPAD

OUTRO EXEMPLO

CARTA ABERTA AO PREFEITO DE BAURU – SP

Bauru, 22 de abril de 2020

Caríssimo prefeito de Bauru, biólogo Clodoaldo Armando Gazzetta.

A anunciada pandemia, uma crise mundial, exige de Vossa Excelência serenidade e capacidade de agir, como gestor público, acima do que qualquer ser humano tenha imaginado passar. Reconhecemos a amplitude dessa situação excepcional na história!

Mas, em sendo assim, pedimos licença para destacar que as declarações têm ainda maior peso. E, por esta razão, devem ser cuidadosamente realizadas no caminho específico das prioridades e com começo, meio e fim.

O vírus tem seu ciclo! Não cabe, portanto, nenhuma declaração de hipótese ou mesmo de ação futura recheada de incertezas.

A regra neste momento de ansiedade extrema é: quais serviços a Prefeitura de Bauru vai entregar, quando, onde, o custo e como!

Aprendemos juntos até aqui, também no meio da crise, que as ações essenciais são: testes em massa, EPIs, controle epidemiológico efetivo e leitos hospitalares (de enfermaria e UTI). As complementares são importantes, mas são complementares e já esperadas na divisão global das tarefas entre as equipes.

Não hesite em compartilhar com entidades, sociedade organizada, prefeitos da região o dever de cobrar, junto com a comunidade de toda a região central do Estado de São Paulo, o governador do Estado de São Paulo para que este responda de imediato por suas principais responsabilidades nesta área: garantir testes pelo Laboratório Estadual em número e tempo adequados ao ciclo da pandemia e programação (já) de leitos adicionais de UTI para internação compatível com a projeção de crescimento da contaminação para pacientes de toda a região.

Mas, caríssimo prefeito, pare de realizar anúncios de ações incertas ou que são obrigações de terceiros. Se não tiver resposta diga: não tenho!

Em apelo, deixamos, por ora, de consumir energia com a lista de erros, incongruências e anúncios feitos por Vossa Excelência sem amparo na realidade em apenas 30 dias de crise!

O vírus tem seu ciclo e, conforme foi sustentado por especialistas seguidos por Vossa Excelência na direção do distanciamento social horizontal, a pior fase será a de agora, daqui até maio. Portanto, ainda dá tempo de corrigir o rito e rota.

Anuncie ações concretas e o que é obrigação do Estado não compre na sua conta. E também não ouse sentar na janela da história, claro. Outubro é outra estória. Depois falamos disso, com a franqueza das urnas.

Por fim, não hesite em escalonar (e apresentar e fazer agora) plano de corte de despesas para suportar o pós-crise, logo ali, a partir de maio.

A queda da arrecadação é realidade! E sem precedentes para uma cidade onde o setor de serviços responde por 69% da atividade econômica.

Retome, em iniciativa de Vossa Excelência, o diálogo com comércio, serviços e indústria. Para planejar, ouvir e apresentar o plano gradual de reabertura das atividades possíveis, no período epidemiológico adequado.

Receba esta Carta Aberta com resiliência e não com viés crítico. O vírus não espera a saliva!

Serenidade, energia, ação e luz!

Abraços.

Cuide-se!

                                                                                         Assinatura